O Movimento Maker é uma extensão mais tecnológica e técnica da cultura Faça-Você-Mesmo ou, em inglês, Do-It-Yourself (ou simplesmente DIY). Esta cultura moderna tem em sua base a ideia de que pessoas comuns como eu e você podem construir, consertar, modificar e fabricar os mais diversos tipos de objetos e projetos com suas próprias mãos. Acredita-se que “aprender a fazer” seja uma das atividades mais antigas do ser humano, foi através desta atitude que as pessoas se desenvolveram para o formato de vida que temos.
Muitas das invenções que Leonardo da Vinci pensou, como tanques de guerra blindados e paraquedas, só saíram do papel séculos depois, pelas mãos de outros criadores. Se estivesse vivendo hoje, o italiano provavelmente não teria dificuldade em assinar as novas ideias. Nem ele, nem qualquer pessoa que queira fazer os próprios objetos, seja por uma nova opção de consumo ou pelo prazer de ver projetos se tornarem reais. Incentivados, sobretudo, pela expansão da internet e seu poder de compartilhar informações, os agora makers não estão mais isolados, mas reunidos e em movimento.
Com o acesso cada vez mais fácil e barato a ferramentas dos mais variados tipos e com uma explosão de informações sobre tecnologia e técnicas acontecendo na internet, o Movimento Maker vem se tornando cada vez mais forte e hoje conta com centenas de milhares de pessoas envolvidas. Atualmente, o Movimento Maker já está dentro de salas de aulas, multinacionais, garagens de casas e laboratórios equipados com máquinas de fabricação digital, tornando a lógica do “faça você mesmo” um fenômeno tecnológico e coletivo. Nesse contexto, o movimento reúne adeptos em espaços físicos equipados com máquinas de fabricação digital (impressora 3D, cortadores a laser, fresadores CNC), chamados Makerspaces ou Fab Labs.
Se com apenas uma impressora 3D caseira conectada ao computador os fazedores podem desenhar e imprimir os brinquedos dos filhos, objetos de decoração, e utensílios domésticos, reunidos em espaços coletivos eles estão criando soluções para problemas maiores. Na África, jovens quenianos criaram incubadoras para hospitais de Nairóbi; nos Estados Unidos – onde a própria Casa Branca recebeu uma feira de makers em 2014 – a aposta é trazer o trabalho manufaturado de volta para a maior economia do mundo.
O empreendedorismo é forte e presente no Movimento Maker, já que cada vez mais vemos fazedores criando novas empresas que nasceram de seus projetos pessoais. Uma nova geração de inventores está criando pequenas indústrias graças à ajuda de ferramentas como as impressoras 3D, que moldam peças e objetos com base em desenhos de computador, a facilidade de comunicação e troca de informações pela internet.
Empreendedorismo e o Movimento Maker
Existem muitos casos de empreendedores de sucesso que escreveram livros contando como fizeram para transformar suas empresas em líderes de mercado, grandes marcas ou exemplos de boas práticas de gestão. A decisão de deixar o emprego para se tornar empreendedor em tempo integral tem muito a ver com as experiências que levaram Chris Anderson a escrever seu livro mais recente, Makers — A Nova Revolução Industrial, já lançado no Brasil. O livro e a empresa 3D Robotics começaram a nascer numa manhã ensolarada de domingo, quando Anderson teve a ideia de construir um drone para os filhos utilizando peças de um aeromodelo e um kit para montar brinquedos robóticos da Lego. Nas semanas seguintes, ele criou uma rede social na internet para trocar informações com outras pessoas que também montam brinquedos eletrônicos como passatempo. A partir de então, ele abriu uma empresa que ajuda a desenvolver partes, softwares e projetos de drones — Anderson já vendeu centenas de aviõezinhos e mini-helicópteros controlados por computador.
No livro, Anderson esboça as características do que acredita ser o prenúncio de uma nova Revolução Industrial. “A ideia a respeito do que é uma fábrica está começando a mudar rapidamente”, afirma ele. “Assim como a internet democratizou a inovação em bits, multiplicando os novos negócios em setores como o de softwares e de comércio eletrônico, uma nova classe de tecnologias está democratizando a inovação em átomos, facilitando a produção de objetos a baixo custo.”
Em vez das grandes indústrias movidas a máquinas e a equipamentos pesados, Anderson acredita ter iniciado uma nova era na qual qualquer um pode ter uma pequena fábrica na garagem de casa. Os makers também se beneficiam da cultura de colaboração nascida com a disseminação da internet. Ele se refere, basicamente, à facilidade de encontrar parceiros interessados em colaborar para o desenvolvimento de um novo produto, fornecer peças e insumos necessários para que um projeto seja concluído e até mesmo, gente disposta em financiar o desenvolvimento de novas ideias.
Neste contexto tempos a rede Fab Lab, fundada no MIT (Massachussets Institute of Technology) pelo Professor Neil Gershenfeld, também diretor do “Centre of Bits and Atoms”, há mais de 10 anos. Sua gênese está associada ao sucesso obtido em um curso pouco convencional nomeado “Como Fazer (Quase) Qualquer Coisa” e oferecido por este professor aos estudantes da instituição. As aulas foram estruturadas como oficinas experimentais onde os alunos utilizavam as máquinas de fabricação digital desenvolvidas no MIT na produção dos mais variados tipos de objetos. Os produtos assim confeccionados atendiam a necessidades específicas de seus criadores, não possuindo nenhum apelo comercial. Com o passar do tempo, centros acadêmicos e outros grupos de estudantes adotaram este mesmo método e passaram a compartilhar o maquinário, nascendo, assim, a rede Fab Lab que hoje soma mais de 300 laboratórios ao redor do mundo.
Em países europeus como a Alemanha, já é possível utilizar serviços de impressão 3D no mesmo modelo das gráficas rápidas brasileiras: em uma ou duas horas de trabalho, com o apoio dos profissionais e por um custo reduzido, um objeto ganha existência física. Neste contexto, é possível imaginar modelos numéricos sendo encaminhados via internet a usuários instalados em locais remotos que, com a ajuda de uma pequena estrutura, podem ser reproduzidos ou modificados, adaptando-se as demandas e condições locais.
E o que o Movimento Maker tem a ver com a educação?
Sabemos que o mundo mudou e tudo está mais rápido e tecnológico. É claro que a formação superior não será substituída e continua sendo valorizada pelas organizações. Mas além do conhecimento técnico, as empresas buscam profissionais que possuem habilidades relacionadas a criatividade, inovação, empreendedorismo, gestão de conflitos e trabalho em equipe. Hoje o ambiente escolar deve preparar e desenvolver o aluno envolvendo teoria e prática, pois muito mais importante (e interessante) é instigar a criatividade de cada pessoa, capacitá-la para resoluções de problemas, trabalho em grupo e ao empreendedorismo.
Os ambientes do Movimento Maker estão espalhados por universidades e escolas do mundo. São espaços de experimentação que permitem alguém fabricar objetos e protótipos de forma rápida, barata e experimental, apoiada por metodologias que vão ao encontro do fazer primeiro (ainda que intuitivamente) e refletir/teorizar depois.
A tecnologia somente facilita a criação. A cultura maker vira ao avesso o que aprendemos na escola. Você é o agente que causa. É uma visão diferente que está alterando a forma de produção, consumo e complementa o aprendizado.
A educação maker tem o objetivo de desenvolver nos alunos as habilidades elencadas nos 4 pilares da educação: aprender a aprender, compreender o mundo, resolver problemas e atuar de forma cidadã, ética e responsável em sua comunidade e na sociedade. Além de despertar no aluno o pensamento criativo, fundamental para o sucesso e satisfação pessoal na sociedade atual.
Na tentativa de descrever um lugar assim, imagine um “Starbucks” e seus sofás de descanso e mesas coletivas. Adicione máquinas do tipo impressoras 3D, cortadoras a laser, fresadoras e muito material de eletrônica. Dentro deste espaço, pessoas que gostam de fazer coisas, descobrir por elas mesmas e, consequentemente, aprender de uma maneira mais criativa e autônoma.
Mas, o que o estudante aprende exatamente: Português, História, Matemática? Difícil dizer, pois no Movimento Maker não se trabalha colocando as áreas de conhecimento dentro de caixas, é interdisciplinar, envolvendo várias áreas ao mesmo tempo e adicionando outras como criatividade, empreendedorismo, inovação, cooperação. Habilidades fundamentais para a realidade do século XXI.
Em uma escola com metodologia construtivista, os próprios alunos podem ser responsáveis por criar e realizar seus projetos. Vale até mesmo para as metodologias conhecidas por não usar tecnologia. Olhar a cultura maker apenas com o viés de tecnologia pode levar a entendimentos errados. As bases da cultura maker são a comunidade, a cooperação e a participação. A maior característica do processo de produção maker é a experimentação: imaginação e criatividade são conceitos fundamentais para um maker, e um espaço maker tem mais trabalho manual do que se imagina. Uma das fortes características do movimento maker é justamente conferir mais poder ao artesão e ao artista.
Mentes criativas encontrarão uma válvula para criar arte e testar novas maneiras de expressão. Para os que valorizam a formação profissional, “botar a mão na massa” gera experiência em uma série de frentes relevantes para este futuro, seja ele como executivo ou como empreendedor. Mesmo sem saber verbalizar esse aprendizado, o aluno está:
- Ganhando noções práticas de ciência de projetos, com a compreensão das dificuldades e necessidades de um projeto real como tarefas dependentes, gestão de riscos, documentação, avaliação de resultados e muito mais.
- Descobrindo que existe um equilíbrio delicado entre dificuldade técnica, custo, esforço e atratividade do projeto.
- Lidando com o risco e entendendo o erro como resíduo de um processo positivo de criação e inovação, não como algo a temer e evitar a todo custo.
- Entendendo que é preciso ter resiliência para projetos mais complexos.
- Percebendo a importância do trabalho em grupo e de liderança.
- Aprendendo a pesquisar, explorar ideias e usar a criatividade para buscar soluções.
Gostou do assunto? Abaixo deixo duas definições importantes para a compreensão do texto. Até a próxima!
Makerspace: Espaço compartilhado entre makers, hackers e interessados. Normalmente possuem diversas ferramentas de prototipagem, fabricação digital (impressoras 3D, cortadoras, etc), máquinas de costura, ferramentas de marcenaria, e outras. Nem todos makerspaces terão as mesmas ferramentas, e alguns possuem poucas, dado o custo alto delas. Mas todos costumam ter diversas oficinas, de diversos assuntos, e são um ótimo lugar para começar a ser maker. Alguns lugares cobram pelo uso das máquinas (para cobrir os custos de manutenção), enquanto alguns poucos não.
Fab Lab: É um makerspace, porém com algumas regras específicas. Todo Fab Lab precisa ter no mínimo 5 tipos de máquinas: impressoras 3D, cortadora à laser, cortadora de vinil, CNC de precisão de pequeno porte e CNC de grande porte. É necessário também ter um dia aberto ao público, para poderem usar as máquinas. Há uma fundação mundial de Fab Labs, a Fab Foundation, que dita as regras da comunidade global de Fab Labs. Nos dias abertos, sempre há alguém responsável por ensinar você a usar as máquinas, mas lembre-se, eles não farão o seu projeto, apenas irão te ensinar a manusear as máquinas, para evitar acidentes e te permitir criar o que você quiser.